terça-feira, setembro 19, 2006

E nisto são 4 da manhã e lembrei-me das leituras de verão...sei lá porquê.



Igualmente perturbadores e ao mesmo tempo únicos.
O Processo e a Metamorfose partilham ambos da genialidade de Kafka, embora cada um no seu registo, ora a realidade trasmitida capítulo a capítulo em moldes surrealmente apresentados mas tão possíveis, tão crediveis que a ignorância do leitor e do protagonista face ao status quo torna-se meramente acessória e maquinalmente trabalhada numa trama da vida real, ora a realidade metaforicamente redomada numa transfiguração corpórea relatada com tudo quanto a metamorfose implica da aparência à alimentação e tudo quanto qualquer mudança pode gerar de diferente como mudança que é. A diferença que experiencia do isolamento, aquele que se torna estrangeiro, barata num mundo de homens.

Nos dois livros a sensação que o protagonista retira do contacto com o mundo e consigo próprio é dispar mas convergente.No Processo o homem segue a sociedade, é espelho dela, e deixa-se enrolar nas suas teias, é parte do rebanho e na ilusão que combate os mecanismos que o prejudicam estabelece contacto com os demais que prontamente se dispõem a ajudá-lo sem ele nunca sequer perceber como.
Na metamorfose temos um protagonista mergulhado no seu íntimo de tal forma que sofre uma transfiguração, é alheio ao mundo, é diferente porque não é igual e não porque é especial.
Então sendo um dependente do que lhe é exterior e outro do seu mundo interior, afinal onde convergem ?
Convergem no facto de ambos falharem no equilíbrio próprio, nenhum dos dois parece ser capaz de viver consigo próprio com certezas, ou demasiado exteriorizado ou demasiado interiorizado.
Falham na comunicação pessoal e singular, eu, comigo mesmo.

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